Uberlândia pulsa, cresce, se expande, recebe por ar e terra novos imigrantes a cada novo dia e originados dos mais diversos cantos deste país. Os setores de indústria, comércio, turismo e serviços fazem aumentar sobremaneira o número de vagas de trabalho, ao mesmo tempo que – necessariamente – novos postos de atendimento à saúde são criados, bairros surgem a uma velocidade constante e políticos locais se articulam unidos em prol de uma sociedade mais esperançosa, enquanto na busca por uma vida com maior dignidade e segurança numa cidade já asfixiada, quase sem fôlego em alguns setores e especialmente na área de assistência e desenvolvimento social, em decorrência de um crescente e desordenado aumento de invasões de lotes e ligações clandestinas de água e energia elétrica, o que salta aos olhos de quem transita pela periferia e causa evidente preocupação e constrangimento a uma considerável parcela da nossa população. Essa metrópole amplia-se com vigorosa rapidez mas, por outro lado, facilmente percebe-se o quanto os seus habitantes dão a clara impressão de que deixam-se separar, pouco a pouco, distanciam-se, isolam-se em seu egoísmo….! Novas pontes e modernos viadutos surgem para ligar bairros e sobrepõe-se a ruas, avenidas e a um rio que cruzam essa urbe e a qual, em muito pouco tempo, deixou de ser conhecida por São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha para logo transformar-se numa descomunal metrópole. Aumenta o numero de veículos leves e pesados que congestionam o trânsito em quase todos os sentidos e horários diurnos, novas linhas de ônibus são necessariamente implementadas e, ainda assim, incoerentemente, a grande maioria dos habitantes desta influente cidade – incrustada em uma riquíssima savana – sente-se cada vez mai isolada, enquanto ocupados em seus compromissos e obrigações diárias. A vida agitada de uma Uberlândia que brotou no cerrado e desabrochou para o mundo e principalmente a partir da década de oitenta do século passado, segue sempre crescente e por isso mais exigente, produzindo utopias, causando a nítida impressão de aumentar a distancia entre os seus habitantes; um paradoxo, sim, mas é a dolorosa realidade e para a qual devem estar muito bem preparados os seus futuros administradores, principalmente no sentido de promoverem uma união de interesses pela busca de uma conexão social cada vez mais cooperativa e participativa em vista de nobres e comuns ideais de vida! Nasci na capital de Minas nos distantes anos 50 do século passado, mas vivi boa parte da minha juventude no afastado e culturalmente rico Vale do Jequitinhonha, onde na grande maioria das cidades os seus habitantes saem de casa à pé e convivem de forma muito harmoniosa e pacata; há cumprimentos, abraços , conversas “fiadas” e divertidos lero-lero e papo-furado no interior e nas portas das casas ou praças ; onde encosta-se ao balcão das farmácias, de algumas “vendas” ou botequins e ali trata-se de assuntos diversos, causos são desfiados vagarosamente e ouvidos com paciência enquanto sorrateiramente trama-se a política local. E Uberlândia, é claro, um dia também foi assim, enquanto corria límpido, manso e imponente o rio Uberabinha; alias que o diga o historiador Antonio Pereira , um “escavador de causos”, memorialista de extrema habilidade literária e que há muito brinda a todos nós com as suas crônicas na imprensa local. Uberlândia chegou a tal ponto em sua vertiginosa escalada progressista que, aceite-se ou não, tornou-se uma sociedade irrefreável e acumuladora de hábitos e costumes diversos advindos das mais diferentes e distantes regiões brasileiras, uma “Meca” e não de peregrinação mas de busca pelo sucesso pessoal e empresarial de dezenas de milhares de brasileiros. Mas no rastro desta sua escalada econômica, aos poucos e sempre mais surgem inevitáveis problemas relacionados principalmente à segurança, habitação, saúde e mobilidade urbana, questões pontuais que desafiam a capacidade intelectual, política e executiva dos administradores públicos deste robusto município, transformando cidades em seu entorno na qualidade de satélites-dormitórios e provedores de mão-de-obra e de estudantes em busca de melhores perspectivas profissionais. Aqui desembarquei pela primeira vez no final da década de oitenta e tornei-me mais uma testemunha ocular e (muito modestamente) participativa de uma cidade que surgiu do pujante progresso de uma região então conhecida por “Sertão da Farinha Podre”, atualmente uma preponderante exportadora de idéias, tecnologia, produtos diversos e berço de grandes empreendedores. Crescer ainda mais é certamente muito possível a essa cidade mas, vez e outra, pergunto-me até quando e porque se o que temos já basta e mesmo excede às nossas necessidades e expectativas? Até que ponto deve crescer uma cidade para que possa oferecer educação, saúde, moradia, segurança, emprego, adequada infra-estrutura básica e mobilidade urbana, de forma a garantir uma vida prazerosa e salutar a todos os seus habitantes? Não é exagero uma metrópole com centenas de milhares de habitantes transformar-se, aos poucos, em um local inconveniente para a prática de uma amistosa convivência entre os seus cidadãos? As considerações acima levam-me a reflexões diversas e o que motivou-me, humildemente, a dividi-las com os leitores deste blog para a sua análise e meditação.
Gustavo Hoffay
Agente Social
Uberlândia-MG