Marília Alves Cunha – Educadora e escritora – MG

Alguns acontecimentos tomaram conta das redes sociais nos últimos tempos, causando forte comoção e intensas manifestações do povo brasileiro. Milhões de likes, comentários e compartilhamentos expressaram opiniões apaixonadas.

O documentário sobre o nosso herói Ayrton Senna foi um deles. Quem não gostava daquela figura que enchia nossos corações todos os domingos, do doce sabor da vitória? Inconformados com um fato da sua vida, os internautas manifestaram-se: por que dedicaram 2 minutos do filme ao romance dele com Adriane Galisteu, aquela que ele amou e escolheu como parceira de seus últimos dias de vida, enquanto montaram um episódio inteiro intitulado “Paixão, um romance insosso que, parece, nem iniciou-se devidamente com a famosa Xuxa. Outro caso que despertou atenção e todo mundo quis mostrar seu lado, num reboliço intenso, foi o do menino birrento que queria sentar-se à janela do avião e a moça “sem empatia” que queria continuar sentada à janela do avião e a mãe do birrento que achou que o menino podia tudo, como um projetinho de ditador.

A cascata da Janja na Granja do Torto recebeu alguma atenção, o janjômetro também. Parece que o festival de gastança foi maior do que pensávamos. Fico ensimesmada: Putz, gastar tanto dinheiro construindo cascatas que não são naturais nem bonitas nos dias de hoje, parece tão cafona. Isto é coisa do tempo do Collor e de sua excêntrica mania de construir coisas na Casa da Dinda. Bem, o Collor enfeitou de máu gosto o que era dele, e não o que é patrimônio público. Problema dele. A Granja do Torto e os gastos públicos são problema nosso.

A reinauguração da Catedral de Notre-Dame, magnífica edificação da Cidade Luz mereceu alguma atenção, não muita. Tudo chiquérrimo, digno do velho mundo, ainda notório pela civilização e onde persistem tradições milenares. Grandes personalidades do mundo inteiro foram convidadas e lá estavam: o presidente eleito do EEUU, Donald Trump, o príncipe William, futuro rei da Inglaterra, um primor de elegância e nobreza, enfim, personalidades do mundo inteiro, convidadas de Macron para o imponente e solene acontecimento. Elon Musk também compareceu, muito assediado por fotógrafos e jornalistas, grande figura do mundo moderno onde importam o empreendedorismo e o tecnológico. Ele não foi para onde a “first lady” o mandou… estava lá, entre os grandes, na bela cerimônia.

Acredito que as autoridades de nosso país não necessitem preocupar-se tanto com as redes sociais. Ainda estão muito rasas, infelizmente, sem profundos conteúdos políticos ou culturais. E são apenas uma maneira das pessoas se comunicarem e comunicarem ao mundo um pouco de si mesmas, do que pensam, do que anseiam, de como veem o mundo. E saber mais um pouco do que acontece neste país: a imprensa tradicional, escrita ou televisionada dedica-se hoje a um jornalismo domesticado, tendente a não expor todos os lados da verdade. Imaginem se estivéssemos vendo apenas um canal de TV. Continuaríamos acreditando em pessoas que teimam em defender um governo desastroso, que no meio do caminho já anda contabilizando perdas e danos.

Pouco vi nas redes sociais opiniões sobre fatos seríssimos como o ocorrido no aeroporto de Roma, que acabou quase se transformando em um negócio de estado ou um atentado á democracia. Lamentável! Terminou com uma retratação por parte da família. Lamentável! Quase não vi nas redes sociais assunto sobre a regulação das mesmas pretendida pelo STF. Nem sobre imunidade parlamentar, assunto grave e importante, essencial à existência da democracia. Um Congresso calado ou subordinado às ordens de outrem, sem existência própria e independente é dispensável. A opinião de alguns ministros sobre o assunto fez-me acreditar, mais do que nunca, que a finalidade precípua desta regulação é monitorar o que a gente diz, é restringir nossa liberdade de expressão. Onde estão os brasileiros para se manifestarem com mais ênfase e mais paixão sobre assuntos tão importantes? Onde o nosso amor por este Brasil, onde o interesse de seus filhos que se esquecem de lutar quando o assunto é a sua própria liberdade e a sua própria capacidade de dirigir seus atos e responsabilizar-se por eles?
A função clássica de uma Suprema Corte é resolver disputas em última instância e interpretar a CF, não mudar a letra da lei através de regramentos e de acordo com interesses pontuais. O ministro Toffoli pensa, inclusive, em criar um departamento para trabalhar no combate à desinformação. Putz! Isto remonta a 1984… Bem antigamente era costume este pensamento: “Traga-me os fatos que eu te digo o direito”. Isto não pode ser trocado por: ”Use a criatividade, ô meu!”

A atividade principal do parlamentar, fulcro de sua existência é legislar. Se outro poder tomar-lhe este papel, onde estará a democracia? Fechem as portas do Congresso Nacional e o último a sair, por favor, apague as luzes. Estamos gastando demais, inutilmente!