Marília Alves Cunha – Educadora e escritora – Uberlândia – MG
Li, há algum tempo atrás um livro excelente, escrito por dois autores norte-americanos: “Como as democracias morrem”. Uma parte interessante deste livro referia-se à impossibilidade de um ex-presidente norte-americano candidatar-se a presidente pela 3ª.vez, aspirar a um terceiro mandato na presidência da república. A Emenda 22, da Constituição dos EEUU, promulgada em 1951, limita este período a dois mandatos. E esta Emenda tornou-se necessária somente depois que o democrata Franklin Roosevelt cumpriu mandatos consecutivos (1933-1945). Antes desta Emenda, nenhum outro presidente candidatou-se ao 3º. Mandato. Nenhum outro candidato a não ser Roosevelt, candidatara-se ao terceiro mandato.
Antes de ser uma imposição legal era apenas um costume, uma tradição, mas impunha-se. Esta tradição homenageava George Washington, o primeiro presidente dos EEUU que se recusou peremptoriamente a buscar o 3º. Mandato. E são pouquíssimos (apenas 2) os ex-presidentes que se candidataram ao um cargo legislativo. A impressão que se tem é que existe naturalmente, intimamente, um senso moral e ético que os impede de tentar mudar a lei e prolongar o período de mandato. Há certas coisas admiráveis lá, além do oceano…
Trump terá somente 4 anos para governar e estimular, deixar que novas lideranças republicanas despontem e se fortaleçam. Creio que fará isto. Não tem este espírito caudilhista, coisa da ainda nossa atrasada América Latina. Esta tentativa de manter-se no poder indefinidamente ou gastar a máquina pública a funcionar para eleger “postes”, gera graves prejuízos ao país e impede o seu desenvolvimento. Ou, no caso da Venezuela, perder comprovadamente a disputa e teimar em continuar na presidência, a “contrario sensu” de uma democracia verdadeira.
O que fazem os ex-presidentes americanos depois que deixam a Casa Branca? Ocupam-se em escrever livros, participar de seminários, ministrar aulas, criar fundações, viajar pelo mundo e dedicar-se a fotografá-lo, gravar suas memórias, cuidar de seus próprios negócios. Quem não puder ou não tiver capacidade para isto, pode simplesmente namorar, tomar seu whiskezinho e papear com amigos, se sobrar algum… Dizem os experimentados que a solidão que aconchega os “ex” é um martírio. Os muitos amigos, que vivem em volta como abelha na flor, têm interesse indiscutível pelo poder e afastam-se logo de quem não tem mais o que lhes interessava.
Li também em algum lugar, não me lembro onde, verbis” :
“Depois de ver o que aconteceu na Venezuela e vários outros países, com o presidente querendo a todo custo perpetuar-se no poder e sentir-se indispensável, os latino-americanos estão se dando conta que um presidente ruim no poder é fatal. Mas um ex-presidente que quer a toda força voltar e voltar é mais perigoso ainda.”