“A honestidade hoje em dia passou a ser um desafio, já que ela desaparece rapidamente dos costumes.”
Marília Alves Cunha
Muitas vezes nos vemos tomadas por um certo desânimo. Ao analisarmos a situação do Brasil hoje, situação sem sombra de dúvidas difícil, parece que entre tantos homens públicos existentes nesta terra poucos chamam a atenção pela sobriedade, lisura, honestidade. Poucos poderiam merecer dos brasileiros o respeito e a admiração que merecem aqueles que se destacam por terem postura e comportamento notáveis, sobre os quais nada pesa que possa desmerecer sua história de vida.
Dia desses, procurando alguns dados na internet, dei de cara com um texto sobre Sobral Pinto. Lembrei-me de meu pai, advogado, e da enorme admiração que ele nutria pelo colega, este grande jurista, um dos mais importantes da história do Brasil.
Sobral Pinto nasceu em Barbacena (Minas é berço de grandes brasileiros), em 1893. Foi apelidado de “Sr.Justiça” durante o Estado Novo e a Revolução de 64, por ser um ferrenho defensor dos direitos humanos e dos presos políticos. Foi preso por alguns dias após a decretação do AI-5. Participou do movimento Diretas Já e integrou o Comício da Candelária. Foi membro ativo e destacado da OAB. Participou de quase todos os eventos importantes que marcaram o sec. 20.
Algumas histórias interessantes são contadas sobre este notável brasileiro e vale a pena serem relembradas. Vão aqui duas que dizem muito de Sobral Pinto.
*Como ele era um grande jurista, munido de todas as condições necessárias para ocupar importantes cargos, Juscelino Kubitscheck ofereceu a ele uma cadeira de Ministro do STF. Ele recusou prontamente. Apesar de muito honrado pelo convite não aceitaria o cargo. Participou da campanha do presidente Juscelino por uma questão cívica, uma questão de dever, não em troca de um cargo público daquela magnitude. Exerceu vários cargos e funções públicas importantes aso longo da sua vida, mas nunca aproveitou-se deles para trair a lealdade ao Brasil e ao povo brasileiro. Seu lema era servir à pátria e contribuir para a sua construção.
*Ele não tinha nenhuma ambição e a velhice o pegou, evidentemente, muito pobre. Por causa de seus parcos recursos e por seu
merecimento, foi criado por lei o cargo de defensor público honorário para que ele pudesse ter um salário e o essencial a uma honrada sobrevivência. De maneira nenhuma Sobral aceitou o cargo, criado para ele. A seu ver, ninguém poderia receber salário sem trabalhar, apenas como honraria. Não aceitou de maneira alguma e tiveram que fazer uma lei revogando a sua nomeação.
Pena que muito da história vai se perdendo e pessoas importantes por serem gigantes e exemplos nas suas atitudes caem no esquecimento. Não temos heróis e dificilmente teremos. Nossa condição de país pouco afeito às tradições nos levam a esquecer personagens e fatos que marcam de maneira magnífica a nossa história. Se você perguntar a um aluno do ensino médio sobre Tiradentes, por exemplo, ele vai lhe responder(se responder)com uma narrativa bem debochada…
A história de Sobral Pinto e sua honestidade, hoje em dia pode parecer bizarra a muita gente. É que a honestidade, este zelo com a honra e a verdade, a mania de ter somente aquilo que merecemos através de trabalho honesto, pode parecer estranha para muita gente. No ambiente coalhado de desonestidade, infelizmente, esta começa a parecer até natural e razoável. Deve parecer natural, pois ninguém está fazendo barulho para o fato de Ministros de Estado terem colocado suas esposas em cargos vitalícios nos Tribunais de Contas, ninguém se incomoda com a ocupação de milhares de cargos comissionados pelo compadrio e militantes, poucos reclamam quando veem o suor do trabalhador, pagador de impostos e cada vez mais sendo taxado, sendo gastos com despesas perdulárias, imorais, desnecessárias. Baixasse o espírito de Sobral Pinto no nosso terreiro e ensinasse ao povo e principalmente aos políticos que podem coexistir honestidade e política. Podem sim!