por uberlandiahoje | nov 8, 2024 | Ponto de Vista |
Mais uma vez é chegada a hora de renovarmos o nosso compromisso com a democracia e após trinta e nove anos de a termos reconquistado: comparecermos frente à urna eleitoral e ali oficializarmos os nossos votos em relação a quem desejamos assistir representando-nos, dignamente, nos poderes Executivo e Legislativo municipais. É nessa época que aumenta a minha indignação quanto ao absurdo de termos a obrigatoriedade de comparecer frente às urnas em tão pequenos intervalos e o que, convenhamos, é uma dose cavalar de um exercício de cidadania mesmo que duramente reconquistado. De uma feita votamos para presidente, governador e deputados e de outra para prefeito e vereadores, ambas as vezes em intervalos de dois anos, embora para senadores haja um intervalo maior ou seja: oito anos. Sabemos que a coincidência de mandatos serviria para trazer uma grande economia para os cofres públicos, além de poupar-nos de um desgaste mental com a incidência de propagandas eleitorais insípidas e portanto inúteis e , ainda, pouparia os governantes de dedicarem-se a fuxicos e confabulações tão comuns naquele tempo e em vista de elegerem os seus pupilos. Por que é eleição, então assistimos não poucos candidatos sem qualquer idealismo político – cientes de suas derrotas- usarem do resultado das urnas como a um trampolim para alcançarem outras esferas do poder político e eleitos que, simplesmente, abandonam pela metade o mandato que lhes foi conferido para assumirem a diretoria ou a coordenação de órgãos oficias , deixando órfãos de representatividade os leitores que confiaram-lhes seus votos. Mas por agora o que cabe a cada um de nós, eleitores, é assistir nossas ruas e calçadas entupidas de “santinhos infernais” e adesivos de péssimo gosto esparramados por veículos diversos, além de serviços ambulantes de propaganda política sonora e estridente. Pergunto: é essa a festa da democracia e onde o voto é obrigatório ? Confesso que até a pouco tempo posicionava-me totalmente contra o alto valor destinado para a remuneração de cada vereador e à sua equipe de gabinete; eu pensava mesmo na gratuidade dos serviços dos senhores edis mas, francamente, santa ingenuidade essa a minha! Se não bastasse a antiga experiência norte-americana de não remunerar a classe política e daí a corrupção política ter atingido níveis altíssimos, ainda seria grande a ilusão de que após investir uma grande fortuna para se eleger, o candidato vitorioso ter que se abdicar de suas outroras atividades remuneradas para, enfim, dedicar-se exclusivamente a representar os interesses dos seus eleitores em relação à comunidade. E a tal festa da democracia já vai começar, com costuras de paradoxais ( e mesmo impensáveis) acordos políticos entre partidos de ideologias absolutamente conflitantes e a grande maioria do povo sem perceber que já atingimos o fundo do poço da ética, da moralidade e da dignidade política. E entre promessas de dentaduras, tijolos, cimento, botinas e de grandes favorecimentos comerciais e empresariais, certo é que em pouco tempo passaremos a assistir a mais uma guerra santa ou melhor…de santinhos e onde (quase) tudo é válido….depois conserta-se o mundo. Sim, depois e depois …..! Os eleitores brasileiros sentem-se , a cada dois anos, em estado de um eterno recomeço e o que faz lembrar-me a lenda mitológica de Sísifo: insiste, resiste, esmorece, cai, levanta e torna a insistir e resistir, porém sem nunca obter sucesso. Quando se sente no estado de um eterno recomeço e de que as coisas irão melhorar por meio de novas eleições, eis que reaparecem as decepções, as desilusões….e tornam os escândalos, a apatia política, a corrupção desbragada, favorecimentos, ausência de critérios racionais, o paternalismo, os feudos e a politicagem, entre outros condimentos da cultura política tupiniquim. O resultado, claro, é catastrófico. Em nome da democracia que muito disso acima exposto seja apenas conjecturas e muito distante da fracassomania. Apostemos, sim, na qualidade daqueles em quem iremos votar, em seus valores, em seu civismo e em sua visão estratégica para que Uberlândia continue avançando; convençamo-nos, até, por meio do desejo férreo de alguns dos candidatos a vereador e prefeito, a transformar a nossa Udi em uma Dubai do Cerrado; sim seríamos a Udibai dos trópicos e fossem cumpridas ao menos a metade das promessas a que temos assistido dos atuais candidatos.
Gustavo Hoffay
Agente Social
Uberlândia-MG
por uberlandiahoje | nov 6, 2024 | Ponto de Vista |
Dr Flávio de Adrade Goulart*
Você conhece algum personagem na fotografia acima? Possivelmente sim, pelo menos aquele senhor de terno preto e um sorriso inconfundível no rosto redondo e no jeito bonachão: Getúlio Vargas. Já o outro homem, de terno claro, porte avantajado, também posando de maneira simpática e sorridente para a foto, é Franklin Delano Roosevelt, então presidente dos EUA (a foto é da década de 30). Historiadores profissionais certamente identificariam outros personagens em tal fotografia, mas de minha parte, admito reconhecer apenas os dois que acabo de citar. Mas afinal, o que faziam aquelas duas autoridades juntas em uma mesa festiva, o ditador daqui e o presidente de lá, e o que isso tem a ver com o SUS? Pois é, pode parecer inacreditável, mas tal encontro, apesar de ter acontecido há quase 100 anos, teve consequências para a política social, a política econômica e o próprio lugar do Brasil no mundo, nos anos atuais. Adicionando certo spoiler a esta história, diria que naquele momento de transição global, com o nazismo florescendo na Alemanha e os Estados Unidos se preparando para se transformar em potência mundial, aquele encontro possibilitou um movimento de aproximação do Brasil a uma esfera geopolítica que, com todos os seus problemas e defeitos, nos coloca hoje como beneficiários de um sistema de saúde que, mesmo aos trancos e barrancos, avanços e recuos, está em sintonia com a ideia mãe do Estado de Bem Estar Social, que sem dúvida representa um marco civilizatório, presente nos países mais desenvolvidos do mundo. Simbolicamente, pelo menos, estávamos do lado certo da história, mas é melhor não sermos muito dogmáticos quanto a isso, pois países do lado errado, como o Japão e a Alemanha, estão hoje em situação social e econômica muito melhor do que a nossa. Mas atenção: não se trata de uma história perfeitamente linear – vamos a ela.
No campo específico da saúde já havia alguma colaboração entre os EUA e o Brasil desde a década de 20, quando dominavam as doenças infecciosas e parasitárias, ditas tropicais, aqui no Brasil (e mesmo em partes dos Estados Unidos) e havia entre os dois países processos de colaboração técnica e mesmo operacional, através da Fundação Rockfeller. A diretriz filosófica disso era o chamado círculo vicioso da pobreza e da doença e a estratégia usada para rompê-lo tinha como base o saneamento básico e a educação das pessoas. Não que isso não fosse importante, mas a verdade é que havia mais coisas a considerar no cenário, por exemplo, um tratamento mais político da questão, a ser considerada a partir de determinantes econômicos e sociais mais amplos – mas isso podemos discutir mais adiante.
Quando Roosevelt veio ao Brasil (e ele o fez mais de uma vez ao longo de seus inéditos quatro mandatos, entre 1930 e 1945), já estava em curso, por parte do EUA, uma operação de verdadeira cooptação do Brasil, dentro de uma geopolítica de boa vizinhança, destinada não só a nos incorporar na esfera de influência (política e econômica) norte-americana como consolidar uma aliança estratégica (embora em uma posição subsidiária para o Brasil), aspecto que viria a ser incrementado pela ascensão do nazifascismo na Europa.
O resultado de tal aproximação tornou-se bastante visível nos anos 40, por exemplo, com a criação da Cia. Siderúrgica Nacional e da Cia. Vale do Rio Doce, já integrantes do chamado esforço de guerra, por lidarem com uma comodity fundamental para tanto: o minério de ferro e através dele, o aço. Aí entra, também, a criação dos Serviços Especiais de Saúde Pública – SESP, que introduz em cena, finalmente, o tópico central deste artigo, a Saúde Pública. Isso se deu no ano de 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, por ocasião de uma reunião de dos Ministérios das Relações Exteriores das Américas, realizada no Rio de Janeiro. Tal organismo tinha como atribuições básicas prover saúde e saneamento na Amazônia e no Vale do Rio Doce, onde se produziam borracha e minério de ferro, matérias-primas estratégicas para o esforço de guerra, com foco nos altos índices de malária, febre amarela e outras doenças que atingiam os trabalhadores em tais regiões.
Nos anos seguintes o SESP viu crescer extraordinariamente suas tarefas, que passaram também a incluir a criação de hospitais e outras unidades de saúde na Amazônia, Vale do São Francisco e Rio Doce; a erradicação da varíola; o desenvolvimento de serviços de água e esgoto, chamados SAAE e mesmo a formação de profissionais de saúde. Ainda como parte do esforço de guerra, prestou assistência direta no encaminhamento de trabalhadores, principalmente nordestinos, para os seringais da Amazônia. Em termos da formação de RH para a saúde, implantou escolas de enfermagem no Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Goiás e Amazonas, através de cursos de graduação e de formação de auxiliares de enfermagem.
Nem tudo, porém, foram flores e glórias em tal história. A entidade, depois denominada Fundação SESP, exerceu atividades ininterruptas entre a década de 40 e o início dos 90, sendo então despojada de suas atividades assistenciais, descentralizadas a estados e municípios, por força da Constituição de 1988.
Problemas conceituais e operacionais relativos a seu funcionamento, entretanto, não foram poucos, por exemplo: (a) Sua estrutura altamente centralizada, sediada no Rio de Janeiro e com pouca delegação de poderes às superintendências estaduais. (b) Além disso, como geralmente acontece em casos assim (vide a estrutura militar), forte hierarquização de suas cadeias de comando, gerando morosidade e letargia na transmissão de determinações ao logo delas. (c) Tal hierarquização e centralismo tinham como consequência imediata sua atuação isolada e sem maiores pontos de contato ou mesmo consulta com estruturas correspondentes nos estados e municípios, fazendo parte, aliás, de uma lógica declarada na instituição. (d) As múltiplas unidades de assistência não faziam parte de um sistema verdadeiro unificado e regionalizado, como seria desejável, mas sim fragmentado. (e) Apesar de assistência saúde se ligar fortemente a saneamento básico, a atuação simultânea do SESP nessas duas áreas acarretava fatores complicadores operacionais e estratégicos diversos, por buscar associar desafios de ordem social e cultural, na saúde, bem como de tecnologia e engenharia, no saneamento. (f) A mudança do panorama epidemiológico, com domínio cada vez maior das condições crônicas e não transmissíveis certamente também contribuiu para o panorama de dificuldades, já que a atuação do SESP foi pensada e gerida dentro de outro paradigma, ou seja, da prevalência das doenças infecciosas e parasitárias, das endemias e das condições agudas em geral.
Acima de tudo, com certeza, vieram as novas determinações constitucionais no campo da Saúde: unificação, descentralização, regionalização, participação social, apressando a decadência de tal entidade . O fato é que a atuação histórica da SESP teve um fim relativamente melancólico, com a sua fusão com outros segmentos do Ministério da Saúde, dentro de um processo que lembra uma anedota atribuída ao teatrólogo G. Bernard Shaw, sabidamente um homem feio, a respeito de um possível casamento com a bela, mas pouco inteligente, Miss Inglaterra da época, ao que ele comentou: melhor não, haveria o risco de juntarmos a minha feiura com a estultice dela… Foi algo assim o que aconteceu com a instituição nascitura, nos anos 90. Não bastasse isso, a nova Fundação Nacional de Saúde, ficou restrita basicamente à área de saneamento, mesmo assim com muitas limitações, dado que a a operação primordial em tal campo coube ao Ministério do Interior (e depois das Cidades) , além de ter se transformado em presa fácil e preferencial de disputas políticas acirradas entre políticos clientelistas, particularmente na região Nordeste.
Mas ao mesmo tempo não se pode negar o papel do SESP como verdadeiro laboratório de ensaio para algumas das conquistas do SUS, por exemplo: a descentralização operacional (mais do que de gestão); o foco na Atenção Primária à Saúde; o trabalho em equipe de relações horizontalizadas; o foco em grupos populacionais vulneráveis; o desenvolvimento da educação sanitária, mesmo em sua forma tradicional, não necessariamente emancipadora; a integração entre intervenções individuais e coletivas; os primórdios de uma hierarquização assistencial, mesmo restrita ao conjunto de suas unidades, fora de modalidade mais sistêmica.
De toda forma, não se pode negar que naquela foto dos anos 30 já havia pelo menos um pequeno sinal premonitório do SUS, embora isso tenha acontecido depois de longo e acidentado percurso.
É claro que as raízes do do SUS vão bem além disso. O nosso atual sistema de saúde, o qual merece nosso carinho e proteção, é também fruto de um movimento intelectual, político e também social (em menor escala), surgido muitos anos depois. Ele certamente bebeu de outras fontes, por exemplo, da formação dos National Health Services do Reino Unido; de outros sistemas de direito universal e responsabilidade estatal, presentes em países socialistas e socialdemocratas em geral; de programas como o dos médicos descalços chineses, que tiveram reflexos em programas brasileiros como o de Agentes Comunitários de Saúde; enfim, de uma potente produção intelectual e empírica, oriunda de diversas culturas sanitárias mundiais.
Acima de tudo, o SUS derivou também do trabalho anônimo de muitos médicos, de outros profissionais e de equipes de saúde, gente que nos interiores e nas capitais do Brasil colocou em prática, desde sempre, (velhas) ideias novas como: trabalho em equipe, foco na atenção primária, responsabilização pela saúde dos cidadãos, educação sanitária, participação e interação com as comunidades, planejamento participativo, sintonia e respeito com a cultura local etc.
E é bom lembrar: curiosamente, se o SUS deve algo aos EUA, nos dias de hoje a situação se inverteu, porque temos um sistema de saúde muito mais aperfeiçoado do que o deles, que é baseado em transações no mercado e não em direitos das pessoas usuárias. O nosso SUS, enfim, embora seja uma solução ainda com problemas, principalmente no financiamento, jamais representaria um problema sem solução.
Saiba mais:
• A criação do SESP e a saúde pública atualmente: o que aprendemos? – O que é notícia em Sergipe (infonet.com.br)
• A história da SESP – Jornal GGN
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Sobre a foto acima: Getúlio Vargas ao lado de Franklin D. Roosevelt (sentado, à direita), presidente dos Estados Unidos, durante uma de suas visitas ao Brasil na década de 1930. Fonte: http://fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/GV/audiovisual/getulio-vargas-com-franklin-roosevelt-e-outroshttp://fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/GV/audiovisual/getulio-vargas-com-franklin-roosevelt-e-outros
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Armínio Fraga: não é possível voltar ao modelo original do SUS.
Armínio Fraga, ex-Presidente do Banco Central no governo FHC e figura carimbada do mercado financeiro, quem diria(!), virou uma referência importante na discussão sobre os rumos do sistema de saúde no Brasil. Os puristas ideológicos odeiam tal coisa, mas de minha parte devo admitir que está valendo a apena ouvi-lo, mesmo sem concordar cem por cento com o que ele anda dizendo. Em entrevista recente à FSP, assinada pela jornalista especializada em questões de saúde, Claudia Collucci (ver link ao final), ele simplesmente defende que o país caminhe para um sistema de saúde que seja mais um híbrido de alguns modelos europeus, com gestão de serviços terceirizada, não mais algo derivado daquele generoso sonho constitucional de 1988. Neste aspecto penso que as ideias de Armínio Fraga devem ser consideradas e somadas a outras, de extração diversa. Acesse mais informação sobre isso: Armínio Fraga: não é possível voltar ao modelo original do SUS – A SAÚDE NO
Raízes insuspeitadas do SUS
Você conhece algum personagem na fotografia acima? Possivelmente sim, pelo menos aquele senhor de terno preto e um sorriso inconfundível no rosto redondo e no jeito bonachão: Getúlio Vargas. Já o outro homem, de terno claro, porte avantajado, também posando de maneira simpática e sorridente para a foto, é Franklin Delano Roosevelt, então presidente dos EUA (a foto é da década de 30). Historiadores profissionais certamente identificariam outros personagens em tal fotografia, mas de minha parte, admito reconhecer apenas os dois que acabo de citar. Mas afinal, o que faziam aquelas duas autoridades juntas em uma mesa festiva, o ditador daqui e o presidente de lá, e o que isso tem a ver com o SUS? Pois é, pode parecer inacreditável, mas tal encontro, apesar de ter acontecido há quase 100 anos, teve consequências para a política social, a política econômica e o próprio lugar do Brasil no mundo, nos anos atuais. Adicionando certo spoiler a esta história, diria que naquele momento de transição global, com o nazismo florescendo na Alemanha e os Estados Unidos se preparando para se transformar em potência mundial, aquele encontro possibilitou um movimento de aproximação do Brasil a uma esfera geopolítica que, com todos os seus problemas e defeitos, nos coloca hoje como beneficiários de um sistema de saúde que, mesmo aos trancos e barrancos, avanços e recuos, está em sintonia com a ideia mãe do Estado de Bem Estar Social, que sem dúvida representa um marco civilizatório, presente nos países mais desenvolvidos do mundo. Simbolicamente, pelo menos, estávamos do lado certo da história, mas é melhor não sermos muito dogmáticos quanto a isso, pois países do lado errado, como o Japão e a Alemanha, estão hoje em situação social e econômica muito melhor do que a nossa. Mas atenção: não se trata de uma história perfeitamente linear – vamos a ela.
No campo específico da saúde já havia alguma colaboração entre os EUA e o Brasil desde a década de 20, quando dominavam as doenças infecciosas e parasitárias, ditas tropicais, aqui no Brasil (e mesmo em partes dos Estados Unidos) e havia entre os dois países processos de colaboração técnica e mesmo operacional, através da Fundação Rockfeller. A diretriz filosófica disso era o chamado círculo vicioso da pobreza e da doença e a estratégia usada para rompê-lo tinha como base o saneamento básico e a educação das pessoas. Não que isso não fosse importante, mas a verdade é que havia mais coisas a considerar no cenário, por exemplo, um tratamento mais político da questão, a ser considerada a partir de determinantes econômicos e sociais mais amplos – mas isso podemos discutir mais adiante.
Quando Roosevelt veio ao Brasil (e ele o fez mais de uma vez ao longo de seus inéditos quatro mandatos, entre 1930 e 1945), já estava em curso, por parte do EUA, uma operação de verdadeira cooptação do Brasil, dentro de uma geopolítica de boa vizinhança, destinada não só a nos incorporar na esfera de influência (política e econômica) norte-americana como consolidar uma aliança estratégica (embora em uma posição subsidiária para o Brasil), aspecto que viria a ser incrementado pela ascensão do nazifascismo na Europa.
O resultado de tal aproximação tornou-se bastante visível nos anos 40, por exemplo, com a criação da Cia. Siderúrgica Nacional e da Cia. Vale do Rio Doce, já integrantes do chamado esforço de guerra, por lidarem com uma comodity fundamental para tanto: o minério de ferro e através dele, o aço. Aí entra, também, a criação dos Serviços Especiais de Saúde Pública – SESP, que introduz em cena, finalmente, o tópico central deste artigo, a Saúde Pública. Isso se deu no ano de 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, por ocasião de uma reunião de dos Ministérios das Relações Exteriores das Américas, realizada no Rio de Janeiro. Tal organismo tinha como atribuições básicas prover saúde e saneamento na Amazônia e no Vale do Rio Doce, onde se produziam borracha e minério de ferro, matérias-primas estratégicas para o esforço de guerra, com foco nos altos índices de malária, febre amarela e outras doenças que atingiam os trabalhadores em tais regiões.
Nos anos seguintes o SESP viu crescer extraordinariamente suas tarefas, que passaram também a incluir a criação de hospitais e outras unidades de saúde na Amazônia, Vale do São Francisco e Rio Doce; a erradicação da varíola; o desenvolvimento de serviços de água e esgoto, chamados SAAE e mesmo a formação de profissionais de saúde. Ainda como parte do esforço de guerra, prestou assistência direta no encaminhamento de trabalhadores, principalmente nordestinos, para os seringais da Amazônia. Em termos da formação de RH para a saúde, implantou escolas de enfermagem no Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Goiás e Amazonas, através de cursos de graduação e de formação de auxiliares de enfermagem.
Nem tudo, porém, foram flores e glórias em tal história. A entidade, depois denominada Fundação SESP, exerceu atividades ininterruptas entre a década de 40 e o início dos 90, sendo então despojada de suas atividades assistenciais, descentralizadas a estados e municípios, por força da Constituição de 1988.
Problemas conceituais e operacionais relativos a seu funcionamento, entretanto, não foram poucos, por exemplo: (a) Sua estrutura altamente centralizada, sediada no Rio de Janeiro e com pouca delegação de poderes às superintendências estaduais. (b) Além disso, como geralmente acontece em casos assim (vide a estrutura militar), forte hierarquização de suas cadeias de comando, gerando morosidade e letargia na transmissão de determinações ao logo delas. (c) Tal hierarquização e centralismo tinham como consequência imediata sua atuação isolada e sem maiores pontos de contato ou mesmo consulta com estruturas correspondentes nos estados e municípios, fazendo parte, aliás, de uma lógica declarada na instituição. (d) As múltiplas unidades de assistência não faziam parte de um sistema verdadeiro unificado e regionalizado, como seria desejável, mas sim fragmentado. (e) Apesar de assistência saúde se ligar fortemente a saneamento básico, a atuação simultânea do SESP nessas duas áreas acarretava fatores complicadores operacionais e estratégicos diversos, por buscar associar desafios de ordem social e cultural, na saúde, bem como de tecnologia e engenharia, no saneamento. (f) A mudança do panorama epidemiológico, com domínio cada vez maior das condições crônicas e não transmissíveis certamente também contribuiu para o panorama de dificuldades, já que a atuação do SESP foi pensada e gerida dentro de outro paradigma, ou seja, da prevalência das doenças infecciosas e parasitárias, das endemias e das condições agudas em geral.
Acima de tudo, com certeza, vieram as novas determinações constitucionais no campo da Saúde: unificação, descentralização, regionalização, participação social, apressando a decadência de tal entidade . O fato é que a atuação histórica da SESP teve um fim relativamente melancólico, com a sua fusão com outros segmentos do Ministério da Saúde, dentro de um processo que lembra uma anedota atribuída ao teatrólogo G. Bernard Shaw, sabidamente um homem feio, a respeito de um possível casamento com a bela, mas pouco inteligente, Miss Inglaterra da época, ao que ele comentou: melhor não, haveria o risco de juntarmos a minha feiura com a estultice dela… Foi algo assim o que aconteceu com a instituição nascitura, nos anos 90. Não bastasse isso, a nova Fundação Nacional de Saúde, ficou restrita basicamente à área de saneamento, mesmo assim com muitas limitações, dado que a a operação primordial em tal campo coube ao Ministério do Interior (e depois das Cidades) , além de ter se transformado em presa fácil e preferencial de disputas políticas acirradas entre políticos clientelistas, particularmente na região Nordeste.
Mas ao mesmo tempo não se pode negar o papel do SESP como verdadeiro laboratório de ensaio para algumas das conquistas do SUS, por exemplo: a descentralização operacional (mais do que de gestão); o foco na Atenção Primária à Saúde; o trabalho em equipe de relações horizontalizadas; o foco em grupos populacionais vulneráveis; o desenvolvimento da educação sanitária, mesmo em sua forma tradicional, não necessariamente emancipadora; a integração entre intervenções individuais e coletivas; os primórdios de uma hierarquização assistencial, mesmo restrita ao conjunto de suas unidades, fora de modalidade mais sistêmica.
De toda forma, não se pode negar que naquela foto dos anos 30 já havia pelo menos um pequeno sinal premonitório do SUS, embora isso tenha acontecido depois de longo e acidentado percurso.
É claro que as raízes do do SUS vão bem além disso. O nosso atual sistema de saúde, o qual merece nosso carinho e proteção, é também fruto de um movimento intelectual, político e também social (em menor escala), surgido muitos anos depois. Ele certamente bebeu de outras fontes, por exemplo, da formação dos National Health Services do Reino Unido; de outros sistemas de direito universal e responsabilidade estatal, presentes em países socialistas e socialdemocratas em geral; de programas como o dos médicos descalços chineses, que tiveram reflexos em programas brasileiros como o de Agentes Comunitários de Saúde; enfim, de uma potente produção intelectual e empírica, oriunda de diversas culturas sanitárias mundiais.
Acima de tudo, o SUS derivou também do trabalho anônimo de muitos médicos, de outros profissionais e de equipes de saúde, gente que nos interiores e nas capitais do Brasil colocou em prática, desde sempre, (velhas) ideias novas como: trabalho em equipe, foco na atenção primária, responsabilização pela saúde dos cidadãos, educação sanitária, participação e interação com as comunidades, planejamento participativo, sintonia e respeito com a cultura local etc.
E é bom lembrar: curiosamente, se o SUS deve algo aos EUA, nos dias de hoje a situação se inverteu, porque temos um sistema de saúde muito mais aperfeiçoado do que o deles, que é baseado em transações no mercado e não em direitos das pessoas usuárias. O nosso SUS, enfim, embora seja uma solução ainda com problemas, principalmente no financiamento, jamais representaria um problema sem solução.
Saiba mais:
• A criação do SESP e a saúde pública atualmente: o que aprendemos? – O que é notícia em Sergipe (infonet.com.br)
• A história da SESP – Jornal GGN
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Sobre a foto acima: Getúlio Vargas ao lado de Franklin D. Roosevelt (sentado, à direita), presidente dos Estados Unidos, durante uma de suas visitas ao Brasil na década de 1930. Fonte: http://fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/GV/audiovisual/getulio-vargas-com-franklin-roosevelt-e-outroshttp://fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/GV/audiovisual/getulio-vargas-com-franklin-roosevelt-e-outros
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Armínio Fraga: não é possível voltar ao modelo original do SUS
Armínio Fraga, ex-Presidente do Banco Central no governo FHC e figura carimbada do mercado financeiro, quem diria(!), virou uma referência importante na discussão sobre os rumos do sistema de saúde no Brasil. Os puristas ideológicos odeiam tal coisa, mas de minha parte devo admitir que está valendo a apena ouvi-lo, mesmo sem concordar cem por cento com o que ele ainda dizendo. Em entrevista recente à FSP, assinada pela jornalista especializada em questões de saúde, Claudia Collucci (ver link ao final), ele simplesmente defende que o país caminhe para um sistema de saúde que seja mais um híbrido de alguns modelos europeus, com gestão de serviços terceirizada, não mais algo derivado daquele generoso sonho constitucional de 1988. Neste aspecto penso que as ideias de Armínio Fraga devem ser consideradas e somadas a outras, de extração diversa. Acesse mais informação sobre isso: Armínio Fraga: não é possível voltar ao modelo original do SUS – A SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL TEM JEITO! (saudenodf.com.br)
*Flávio de Andrade Goulart é médico, professor de Medicina na UFU e na UNB, secretário de Saúde em Uberlândia e sobrinho do poeta Carlos Drummond de Andrade
por uberlandiahoje | nov 5, 2024 | Ponto de Vista |
Marília Alves Cunha – Educadora e escritora – Uberlândia – MG
O ilustre presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu o senso de realidade. Apartado do povo, vive em palácios cercado de todo o luxo, paga uma nota preta a um chef de cozinha para ter refeições à altura de sua augusta pessoa, enquanto dona Janja faz viagens internacionais para falar da fome do povo e de uma educação que não existe. Não acreditei, como pessoa consciente, naquela campanha idiota baseada em cerveja e picanha e aeroporto lotado como se fosse rodoviária, como se o povo fosse viver disto. Alguém acreditou? Parece que sim…
É um presidente afeito aos salões dos palácios, a ambientes cuidadosamente planejados, às plateias organizadas que funcionam como claques, treinadas para aplaudir nos momentos propícios. Cercado de uma turma ideologicamente fanatizada pelo poder e seus múltiplos contornos ou pelas que têm interesses contrários ao povo e ligados a este infeliz governo por múltiplas causas estritamente pessoais.
Os ministérios não foram formados por técnicos, pessoas preparadas para dirigir, organizar, planejar importantes soluções para esse país tão carente delas. Muito pelo contrário, Lula nomeou ministros totalmente incapazes e incompetentes, despreparados para a função. Aparelhamento total. Os ministérios hoje são habitados pela desordem administrativa e falta de realizações. E por escândalos. Escândalos não poderiam faltar. O presidente não responde a tempo a esses escândalos. Afinal, são provocados por sua militância e há que haver perdão…
Atualmente o Brasil passa por crises de diferentes espectros. Na economia não poderia ser diferente, o problema é sério e se aprofunda cada vez mais, nos aproximando bem depressa de um caos econômico grave, uma dor que já nos atingiu em outros momentos e pode se repetir, multiplicada por mil. Um governo que não acredita em responsabilidade fiscal, equilíbrio nas contas públicas certamente é irresponsável e arrasta toda uma nação na tormenta da sua irresponsabilidade. Estamos deficitários em 3,3 bilhões de reais. O recorde era do próprio Lula que atingiu em 2009 o patamar de 3,8 bilhões. As estatais, que estavam apresentando superavit em 2022, hoje, devem fechar o ano com rombo de 2,3 bilhões. Pra onde foi tanto dinheiro?
Estamos sem dinheiro para coisas muito importantes, como educação, saúde, segurança pública e outras coisas também de suma importância. Temos estradas intransitáveis, outras a serem feitas, temos necessidade de prover todas as cidades de saneamento básico, programa importante do governo anterior e foi cortado por este desgoverno. Não podem ser esquecidas pessoas portadoras de doenças raras, cujos remédios são caríssimos e, no momento, abandonadas a sua própria sorte. O STF deliberou que estas pessoas apenas poderão receber remédios que existem no SUS, quer dizer, ficarão sem os remédios apropriados. Não poderão mais recorrer à justiça para tentar obter os medicamentos. Justificativa: falta de dinheiro. Pobre povo brasileiro!
Estamos sem dinheiro, acreditam?
Mas o governo repassa 58 milhões de reais para beneficiar uma ONG ligada ao PT. Os principais beneficiados estão alojados ou ligados ao MEC. ONG já é um assunto polêmico. A escolha dos contemplados levanta dúvidas sobre a transparência e imparcialidade na distribuição de recursos públicos. Quantas ONGs estarão por aí, gastando o nosso dinheiro em inutilidades ou simplesmente manejadas por pessoas que vivem locupletando-se à custa alheia?
Estamos sem dinheiro, acreditam?
Existe no Brasil uma TV estatal – TV Brasil – Até hoje essa TV só funcionou para alojar apaniguados dos governos. A gloriosa TV Brasil vai produzir uma novela e o governo empenhará 110 milhões neste pretensioso e ridículo projeto. Sinceramente, um país necessitado de tantos cuidados, um país jogado às traças se dá ao luxo de produzir novela. Nem a Globo consegue mais fazer coisa que preste, imagine o governo…Pelo andar da carruagem, penso eu, Janja será diretora. Não, diretora neste país tem um papel muito obscuro. Quem sabe protagonista, obtendo o papel principal…Ai, Deus, nem sei se morro de rir ou de chorar!
Estamos sem dinheiro, acreditam?
Para o povo, sim. Para a nação brasileira e suas reais necessidades, sim. Mas para os campeões nacionais dinheiro sobra. E lhes dá a mordomia de viver confortavelmente os seus melhores dias em países imperialistas, capitalistas, absurdamente democráticos, coisas do demo e dos quais o Brasil precisa, para o bem de todos se afastar. Sobra também bastante do nosso dinheiro para aqueles que o STF, com sua impetuosidade e ousadia depois de descondenar, perdoa todas as multas e dívidas bilionárias que por acaso ainda tenham, decorrentes da operação LJ. Um pesadelo!
Estamos sem dinheiro. Acreditam?
Os cofres públicos abrem-se para as claudias raias e fafás de belém da vida, que já abiscoitaram uma bela fortuna, podendo fazer seu trabalho sem o risco de prejuízo. Cobram uma militância hipócrita, que só enxerga fogo e prejuízos ao meio ambiente quando governam aqueles que têm despesas mais importantes a tratar, que não aceitam continuar o ciclo de benesses que enlaça uma elite artística, a “esquerda caviar” que tem se aproveitado sobejamente dos governos petistas. À disposição da classe artística 16 bilhões. Preocupação com a Arte? Garanto que não, muito mais com os artistas e sua militância que vai se tornando cada vez mais criticável.
O nominado “pai dos pobres” não parece ter interesse (posso estar enganada) em poupar os brasileiros de despesas obrigatórias que os mesmos pagam com grande sacrifício. Afinal, os brasileiros não necessitam grandes coisas: para que duas TVs, me contem! Para que sonhar em construir um patrimônio, com muito suor e trabalho? Para que pensar em sua família e trabalhar muito, e não gastar em demasia para chegar ao fim da vida e deixar o fruto de seu esforço para a família? Para que duas, três casas? Basta uma para morar, quanto mais simples melhor! O resto é ostentação, ostentação, principalmente da classe média, este reduto de gente que sustenta o país de impostos e obrigações cada vez maiores e recebe xingamentos de petistas mal humorados , desinformados e também pertencentes à classe média. Pode? Para que sonhar? Sonhar é desvario de gente que não tem mais o que fazer… Para que ter ambição, melhorar de vida, ter mais segurança na velhice? Para que isto tudo? Não passa de ostentação…
De presente para a nação brasileira, um Haddad, fiel servo do rei. Cabe à equipe econômica inventar maneiras de cobrar cada vez mais, impostos e taxas. E é horrível entregar dinheiro ao governo, em países como o Brasil. Em países onde nada se faz para beneficiar a população. Em países sem projetos, governos perdidos em seus próprios descaminhos e desvios.
Sinceramente, não sabemos mais quem nos governa, não sabemos mais do futuro, não sabemos mais de segurança e paz. E como falar em democracia em um país que se aproxima fatalmente de ditaduras, alinhando-se à China, Coreia do Norte, Irã, Cuba, ideológica e instrumentalmente? Com certeza isto contraria a vontade do povo brasileiro mas, que passa a ficar calado e inerte, subjugado por um Congresso que não o tem representado, por um judiciário que ultrapassa os seus deveres constitucionais e interfere em assuntos que estão além de sua função e por um presidente que não governa. É assim o Brasil de hoje, sinto muito!
E olhem que novidade! O Alckimin foi representar o presidente, cumprindo o seu papel institucional. Para onde? Um lugar remoto chamado Azerbaijão… Ah! se fosse para New York, Paris, Roma ou qualquer outro lugar mais charmoso e glamuroso, mais “chic”, certamente ele não iria…Bye!