por uberlandiahoje | abr 16, 2025 | Ponto de Vista |
Texto de Flavio Goulart & Henriqueta Camarotti
Flávio Goulart
O estudo da espiritualidade e suas fronteiras com as demais áreas do conhecimento é um terreno de limites imprecisos e o método científico para tanto pode ser utilizado, com a devida cautela, por se tratar de área em que aspectos simbólicos e abstratos são preponderantes. Entretanto nas últimas décadas tem havido um particular interesse dos pesquisadores nacionais e internacionais, buscando entender melhor as intersecções dos campos do conhecimento que possam, de alguma forma, estar relacionados. De toda forma, do ponto de vista acadêmico, embora haja interesse em entender o fenômeno da espiritualidade nos vários campos da vida humana, deve-se reconhecer que ainda há muito a se caminhar. Exploraremos aqui algumas pesquisas, dentro do tema das relações entre neurociência, saúde e espiritualidade, sem perder de vista a necessidade de ampliarmos o conhecimento e reflexão crítica. A busca do esclarecimento da relação entre as funções cerebrais e a espiritualidade depende tanto do empenho clínico e do estudo de novas pesquisas que possam servir como referências para a caminhada dos interessados no assunto. As correlações entre as funções das áreas cerebrais e a espiritualidade são alguns exemplos de uma nova fronteira multidisciplinar que se descortina, associando as áreas da neurociência, da biologia evolutiva e do estudo psicológico, sociológico e antropológico do homem. Complementam-se, assim, nesse âmbito, as potencialidades de autocura, promoção da saúde mental, regulação das emoções e impulsos e a evolução do ser. As pesquisas e propostas nas áreas das neurociências são numerosas, o que torna quaisquer reflexões, neste âmbito, incompletas. A grande diversidade de posicionamentos logicamente nos dá uma margem grande de reflexão e amplia a capacidade de cada estudioso assumir suas próprias posições. O caminho é longo, mas é importante começar a dar os primeiros passos.
A espiritualidade, a religiosidade e a compreensão da evolução humana, ou seja, a inclusão da dimensão espiritual no contexto da vida e nas situações de cuidados com os pacientes são fatores que importam, e muito, nos processos de cura. Para os médicos e enfermeiros, espacialmente, a qualidade de atenção está associada com o grau de proximidade pessoal com os pacientes e o exercício de e incremento de uma “intencionalidade positiva” com estes, ou seja, um maior empenho e interesse para com as pessoas atendidas. Fica claro, então, que serviços de saúde devem contar com profissionais abertos e sensíveis à dimensão espiritual das pessoas atendidas.
Do ponto de vista dos pacientes, deve ser lembrado que para alguns o sofrimento os faz desistir de lutar, mas outros, ao contrário, se fortalecem através da dor – os chamados resilientes. Uma atitude assim talvez não possa ser inoculada em alguém, mas, com certeza, pode ser potencializada por uma atenção cuidadosa e diferenciada por parte das equipes de saúde. Estudos mostram, aliás, que a maioria dos pacientes com condições graves ou terminais buscam sentimentos do amor e de pertencimento que possam ser oferecidos pelas equipes de saúde. Assim, lembra Henriqueta, a amorosidade por parte do médico e da equipe, é a chave principal para que a situação do paciente seja potencializada em favor da cura.
Estudos diversos constatam também que a busca de recursos religiosos proporciona melhores condições psicológicas, maior capacidade de estabelecer estratégias de superação e também na redução da autovitimização, esta última uma característica de personalidade que melhor define aqueles que conseguem superar e desenvolver o processo resiliente e ainda funcionar como promotores de ajuda aos que sofrem. Não é demais lembrar que o enfrentamento das enfermidades, pode estar relacionada à fé que se tem na vida e também na crença em si próprio.
Aspecto importante é que quanto mais esclarecido for o paciente, mais ele espera acolhimento e respeito às suas crenças e convicções. Em concordância com isso estudos revelam que na maioria das situações, particularmente em doenças crônicas e degenerativas, pessoas ligadas em aspectos espirituais e religiosos apresentam melhores respostas na superação de doenças, e apresentam índices de melhor qualidade de vida. No campo específico da saúde mental, a prática espiritual e religiosa mostrou associação positiva com redução do abuso de substâncias químicas, suicídio, ansiedade, depressão e à melhora da qualidade de vida. É de se destacar também a possível correlação entre fé e consciência autocurativa.
Estudos realizados em várias partes do mundo e em diferentes culturas demonstram também que existe por parte de pacientes crônicos a expectativa de que os médicos mantenham com eles um diálogo franco em temas existenciais e espirituais e, além disso, sentimentos de compaixão. Não há dúvida, porém, que profissionais que lidam diretamente com pessoas doentes costumam sentir-se despreparados para tanto, de forma que subsiste algum afastamento entre o cuidador e a pessoa cuidada, que pode se sentir solitária na busca de aliar sua fé à superação da doença vivenciada, o que sugere a necessidade de que todo profissional de saúde deveria entender o exercício da profissão como o atendimento a um chamado ou como uma missão, E, como decorrência, a necessidade de que profissionais de saúde devem estar bem consigo mesmos para facilitar a caminhada curativa de seus pacientes.
Mas há uma pergunta que não quer se calar: a educação dos profissionais de saúde seria adequada na área da espiritualidade? Sem dúvida, isso está expresso em aspirações individuais dos estudantes, que buscam muitas vezes um sentido último para a vida através da imersão religiosa e na crença em Deus, além de outros fatores como família, naturalismo, humanismo, manifestações artísticas. Não seria por acaso que que universidades pelo mundo a fora estão incorporando disciplinas voltadas para o tema da Espiritualidade, na formação de médicos e também de enfermeiros. Procura-se, assim, não só promover o reconhecimento da dimensão espiritual do paciente, bem como a promoção de atendimentos mais humanizados. O fato é que os médicos e outros profissionais concluem seu curso valorizando basicamente os procedimentos tecnológicos, cirúrgicos e farmacológicos, deixando de lado a valorização das necessidades humanas trazidas pelo paciente, que, diante do adoecimento, encontram-se ainda mais fragilizadas. Isso se correlaciona à racionalização e medo de não serem vistos como tecnicamente competentes, em um contexto de insegurança foco exagerado em recursos tecnológicos. Associa-se a isso a imposição dos valores materialistas e imediatistas repassados pelas escolas médicas, superdimensionando o biológico em detrimento dos aspectos emocionais, culturais, existenciais e espirituais.
Apesar da falta de unanimidade entre os autores, o que é perfeitamente natural na ciência, a religiosidade e a espiritualidade dos pacientes têm sido relacionadas positivamente com a redução da morbidade e mortalidade, com a melhora da saúde física, mental, com o estilo de vida mais saudável, menor procura aos serviços de saúde e a melhora no enfrentamento das dificuldades, além da promoção do bem-estar, da redução do estresse e da prevenção de doenças. Geralmente, os profissionais de saúde são treinados para não demonstrar emoção diante do sofrimento. Essa postura pode ser vista por dois ângulos diferentes e opostos. De um lado, o terapeuta se protege do trauma vicariante, ou seja, busca não absorver o sofrimento do paciente. Do outro, pode provocar uma espécie de impermeabilidade afetiva, podendo beirar à insensibilidade. Importa, portanto, saber sentir a dor do outro, sensibilizar-se com ela, como um ato de coragem humana. Ressalta-se assim a importância de cuidar de quem cuida.
Enfim, a integração da espiritualidade e da religiosidade nas práticas de saúde é componente essencial de uma abordagem respeitosa, centrada na pessoa e interdisciplinar, que não impõe crenças religiosas nem visões de mundo seculares.
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A preocupação e a atuação das equipes de saúde com foco na espiritualidade e em outros aspectos da vida simbólica dos pacientes tem o potencial de representar, nos serviços de saúde, o panorama de verdadeira revolução.
Aproveitemos, então, o ensejo da discussão acima, para citar alguns outros aspectos da atenção à saúde, geralmente descuidados nos serviços de saúde habituais, que se somariam a uma abordagem como a presente e dariam ao atendimento um caráter profundamente humano, além de incremento apreciável na eficiência das ações. Assim, em termos sintéticos, podem ser citados (sem nenhuma expectativa de esgotar o assunto, que é por demais amplo):
Diversidade de cenários: a atenção à saúde não deveria ser oferecida apenas nos centros de saúde, hospitais e outras unidades formais do sistema de saúde. Há muitos outros ambientes nos quais ela seria valiosa, aumentando o acesso e o conforto dos pacientes, além do ganho em qualidade geral. Entre tais ambientes podem ser citados: os domicílios dos pacientes (por exemplo, na própria substituição da internação hospitalar (home-care); nas escolas; nas fábricas e outros locais de trabalho; nas prisões, quartéis e outras instituições. Isso dentro das condições e parâmetros já muito bem definidos na vasta literatura sobre a Atenção Primária à Saúde.
Diversidade de praticantes: Nas últimas décadas o setor saúde deixou de ser domínio quase exclusivo de médicos e enfermeiros para abrir suas portas a dezenas de outras profissões. Esta tendência não tem sido revertida, ao contrário, amplia-se cada vez mais. Podem ser citadas como exemplos as diversas práticas de cuidados integrativos e complementares já previstos nas normas do SUS, mas também uma vasta gama de profissões que incluem treinadores de educação física, nutricionistas, especialistas do direito, assistentes sociais, laborterapeutas, mediadores, concierges, padres, pastores e muitos outros, sem prescindir da necessária comprovação de cientificidade de cada tipo de cuidado.
Incorporação de familiares nas estratégias de cuidados: por exemplo, para atenção a idosos, bebês, gestantes, pacientes acamados, deficientes físicos e portadores de necessidades especiais diversas, como apoio e eventualmente na responsabilidade direta do cuidado, mediante supervisão das equipes formais de saúde.
O Concierge ou Navegador Clínico: profissional que disponibiliza atendimento personalizado às pessoas, visando garantir a continuidade do cuidado, conforme as necessidades de cada pessoa e ajudar para que essas pessoas se sintam acolhidas e protegidas, especialmente nas demandas administrativas, necessárias para garantia da qualidade do cuidado, tirando dúvidas, efetuando agendamentos, monitorando a realização de exames e de outros encaminhamentos, agilizando solicitações e se antecipando às necessidades das pessoas, proporcionando máximo conforto e garantia do cuidado certo, no tempo certo e no lugar certo.
Visitas domiciliares: como se sabe tal item já está incorporado na Estratégia de Saúde da Família. Todavia percebo que seu cumprimento é muito precário em toda parte, pois há habitual escassez de Agentes Comunitários de Saúde, além do desvio destes para outras funções dentro dos serviços, além da valorização reduzida desta atividade primordial que é a VD. Aliás, deveria haver tal compromisso (e obrigatoriedade) não só por parte dos ACS (seus agentes principais), mas também dos demais membros das equipes de SF, inclusive médicos – por que não?
Qualificação extra técnica das equipes: é preciso qualificar as pessoas para operarem equipamentos, colher entrevistas e anamneses, medir pressão, aplicar vacinas, esterilizar objetos, organizar a demanda de pacientes etc. – cada vez mais. Mas ao mesmo tempo é necessário introduzir novas visões e despertar reflexões sobre a vasta simbologia que envolve o campo da saúde. Em reuniões esporádicas, mensais ou bimensais, por exemplo, seria interessante que se convidasse, não só para falar, mas também ouvir as equipes, gente “diferente” como sociólogos, filósofos, agentes religiosos, pedagogos, pessoas que superaram obstáculos em sua saúde, além de outros.
Cuidados paliativos: para superarum grande vazionos sistemas de saúde,aquele que aparece quando pessoas “desenganadas” recebem alta hospitalar “para morrer em casa” – ou casos semelhantes – é preciso que os serviços de atenção primária se qualifiquem para tal missão, o que deveria incluir as tecnologias de home-care já sobejamente conhecidas, associadas à atenção humanística, nos termos já desenvolvidos acima, no presente texto.
“Desospitalizar” o ambiente: hospitais não podem ser mais aqueles lugares cinzentos e impessoais, da mesma maneira que as unidades menores do sistema de saúde. Hoje há uma tendência universal em realizar intervenções arquitetônicas e paisagísticas neste sentido. Enquanto isso não é incorporado de forma taxativa à cultura da saúde em nosso meio, cabe às equipes imaginar e executar pequenas intervenções neste sentido, por exemplo, nas atitudes receptivas por parte de todos; salas de espera amigáveis; incorporação de detalhes decorativos; retirada de cartazes taxativos, agressivos ou de negação; higiene e limpeza, acesso facilitado a água e sanitários, eventos festivos e comemorativos etc.
São pequenas coisas realmente, mas pensando bem, não existe algum rio que já nasça grande…
por uberlandiahoje | abr 15, 2025 | Ponto de Vista |
Marília Alves Cunha – Educadora e escritora – Uberlândia – MG
Vamos encarar a verdade?
“Toda intervenção do governo cria novos problemas sem resolver os antigos. Quando houver uma aparente falta de oferta pra suprir uma demanda, olhe para o Estado e encontrará o problema.”
(Murray Rothbard
Enquanto nos ocupamos da deselegância de Janja, seu comportamento imaturo, suas atitudes “nouveau riche” nos gastos com o dinheiro público e no deslumbre, o Brasil perde completamente o rumo. Vive novamente um caos, com base no desrespeito à nossa Constituição, num presidente que chegou no limite da inconsequência e com poderes que funcionam demais ou funcionam de menos, dependendo dos interesses. E cada vez pior fica!
O Brasil está quebrado ou em vias de… Atualmente, pela fala de economistas e pessoas entendidas no assunto, o dinheiro sumiu, num carnaval de incompetência, escândalos, gestão irresponsável e desrespeito total ao teto de gastos. Algumas coisas nos mostram isto:
O valor do piso salarial dos professores do ensino fundamental, num regime de 24 h semanais é de R$ 2.920,66. Alguns (poucos) estados pagam mais que isto. Todo mundo reconhece que é pouco, muito pouco, dada a importância da profissão. Mas se perguntarmos aos governos por que não pagam mais, dirão que não há dinheiro… No Japão, por exemplo, o trabalho dos professores é muito respeitado. Reza a lenda que os mestres são os únicos profissionais que não precisam curvar-se ante o imperador. Sem professor não há imperador, visto serem responsáveis pela formação dos demais profissionais.
Na próxima campanha eleitoral a educação será o principal mote dos políticos, em discursos cheios de promessas e ilusões temporárias. A desculpa é sempre a mesma: O Brasil não tem condições de pagar melhor seus professores e esta é uma das causas da desvalorização da educação como um todo, de perdermos a esperança num país desenvolvido e de sucesso. Promessas virão, sem dúvida, como sempre…
O famoso “Correios” está com um prejuízo recorde de R$3,5 bilhões, o maior da história da estatal. E há alertas para o perigo de insolvência. O presidente e seu Ministro da Fazenda não assumem os erros. Se existe negacionismo no país, provém do próprio governo que tenta sempre jogar a culpa nos ombros dos outros, não assumindo os próprios erros e tentando driblar a boa fé dos cidadãos. O alerta de insolvência revela o risco de os correios quebrarem e haver necessidade de resgates do Tesouro Nacional. Quem vai pagar esta conta? Adivinhem… O funcionalismo da empresa já sente na carne o problema, já que os Fundos de Pensão não estão cobrindo as despesas dos Planos de Saúde. Ficar ao Deus dará, será possível? Aliás, a história não vai parar nos Correios. Várias estatais estão deficitárias. O déficit em 2024 chegava a mais de R$7 bilhões. Putz!
De acordo com o Ministro do TCU, Augusto Nardes, O Brasil está indo à falência, caminhando a passos largos para o colapso. Cinquenta e seis por cento do que se arrecada no país (de altos impostos) está sendo empregado para pagar a Previdência Social. Não podemos admitir como vitória o assistencialismo que, cada vez mais, aumenta a dependência das pessoas ao Estado e serve como bandeira eleitoral para angariar votos. Cidadania conquistamos dotando as pessoas de boa educação e boas oportunidades de trabalho. Sinceramente, sinto-me envergonhada de viver num país em que o governo acha que é necessário dar dinheiro aos jovens para que sintam-se motivados as estudar. A motivação deveria ser outra, bem diferente. E o pior é que, depois de começadas estas assistências não há como parar. Vira “revolução” e o povo sente-se lesado, pois acaba pensando a assistência não como um auxílio temporário e sim, como obrigação do governo, seu direito…
Em contraponto a tudo isto, nesse país estranho que dizem quebrado(para alguns), enquanto para outros o sortilégio brilha:
Regime de urgência na Câmara Federal para votar o seguinte assunto: com apoio do Lula o STF quer ampliar o número de gratificações salariais dos assessores dos Ministros que já recebem gordos salários, muito, muito mais do que pobres mortais. Propõem um aumento substancial para as funções gratificadas, passando para R$ 3 mil reis. Justificativa: Aumentando os benefícios haverá mais interesse e possibilidade de retenção nos cargos dos melhores assessores. Ah! Tivessem este pensamento no caso dos professores…
Os Correios, como já disse, sofrem o efeito catastrófico de um desgoverno e está com prejuízo recorde, à beira da falência. Mas, mesmo assim, o Brasil não pode parar no seu programa de assistência a artistas necessitados. Agora foi a vez de Gilberto Gil, que faz uma turnê pelo Brasil mostrando a sua arte, abocanhar R$ 4milhões. E o melhor é que o próprio Correio está patrocinando esta turnê! Milagre? E o governo federal gasta uma quantia estratosférica bilionária numa tal de COP-30, 30ª. Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. É inacreditável a fortuna que estamos pagando para mais um regabofe e lero-lero sobre mudanças climáticas… Bem, disto e outras coisas que urgem encarar, conversamos no próximo.
por uberlandiahoje | abr 15, 2025 | Ponto de Vista |
Marília Alves Cunha – Educadora – Uberlândia – MG
Igor Giovani e João Vitor são duas crianças que morreram há alguns anos atrás, pelas mãos assassinas de pessoas de seu próprio sangue. Procuraram socorro, sentiram medo, pressentiram no ar o pesado cheiro da violência. Falaram. Suas queixas não escutadas transformaram-se em corpos esquartejados, escondidos em sacos de lixo. Perdidos ficaram para sempre o seu riso infantil, seu olhar inocente, suas brincadeiras. O socorro não veio. É preciso ouvir…
Crianças pedem socorro nas ruas, esquinas, nos sinais, fazendo macaquices, implorando “um dinheirinho prá comprar arroz”, longe das escolas, distantes de um mundo melhor, aprendendo a sobreviver de modo malandro, onde o mais forte é o mais esperto, onde a vida é medida pelo butim arrecadado, onde começam cedo o sexo e o vício.
Crianças pedem socorro pela falta de alegria, pela falta de futuro, quando a sua boca se fecha em amargura e seus olhos envelhecem precocemente, o corpo falando alto através de cicatrizes, equimoses, queimaduras, fraturas, marcas da maldade espraiando-se como pegadas na areia.
Crianças pedem socorro pela sua inocência invadida, tomada por mãos brutais, pela morte de sua alma que nem sequer começou a abrir-se ao mundo, pelo seu corpo indefeso exposto à brutalidade e sanha de monstros.
Crianças pedem socorro quando abandonadas. Carinho, afeto e diálogo sempre à espera, afago sempre atrasado. Discórdia, incompreensão, intolerância e desamor respondendo “presente”.
Crianças pedem socorro quando vivem na marginalidade, afeitas ao crime, no lado escuro da vida, tendo bandidos como heróis, colecionando desprezo por pessoas, pela vida e pela morte. Crianças que se drogam, roubam, matam e traficam, reféns de exploradores e de uma sociedade que não as reconhece e que se esforça em esquecê-las.
Pedem socorro as muitas crianças que vivem pelo Brasil afora e que vão crescer e viver sem conseguir uma educação formal. Enquanto pululam péssimas Universidades, fábricas de lucros e de desempregados, o ensino fundamental e o médio caem a níveis surpreendentes, comparáveis aos piores do mundo.
Crianças pedem socorro na porta dos hospitais, nas filas dos ambulatórios. A falta de investimento na saúde, na proteção à infância e à maternidade criam todos os dias milhares de vítimas. Recursos são desviados, obras ficam inacabadas, a corrupção solapa tudo, não existe vontade política, nem seriedade, nem vergonha e humanismo para encarar e corrigir tão grave problema.
É preciso ouvir! É preciso falar! É preciso agir. Sair desta inércia que é inimiga das nossas crianças, sair desta inércia que maltrata os nossos jovens, sair desta inércia que não propicia a ninguém uma vida mais digna de ser vivida. A maior riqueza, o maior recurso, o maior tesouro a ser cultivado em um país é o seu povo. Repito Herbert de Souza: “Quando uma sociedade deixa matar as suas crianças é porque começou seu suicídio. Quando não as ama, deixou de se reconhecer como humanidade”. Nunca construiremos uma grande nação se dermos as costas à ética e deixarmos que a nossa consciência seja asfixiada pelo desinteresse, pelo individualismo, pelo conformismo e pela indiferença total ao sofrimento e às mazelas que nos oprimem.
** Estas duas crianças, Igor Giovani e João Vitor foram assassinadas pelo pai e a madrasta. Esquartejadas, jogadas em sacos de lixo; pediram socorro várias vezes, inclusive às autoridades. Ninguém as ouviu…
por uberlandiahoje | abr 15, 2025 | Ponto de Vista |
Iria Dodde – Professora – RJ
Tenho visto e ouvido muitas críticas sobre o Bolsa família e outras benesses sociais que vêm sendo distribuídas pelos sucessivos governos desde FHC. E as críticas são de que estamos gerando uma geração de preguiçosos. As pessoas não querem emprego. Quando lhes são ofertadas oportunidades as negam. Mas, o exemplo vem de cima. Por acaso aqueles que eles elegem trabalham ? Quantas vezes por semana trabalha um legislador, em especial aqueles em Brasília ? Feriados prolongados , 2 férias por ano , idas semanais as bases , etc. Outra vergonha é o judiciário , tribunais superiores , Ministério Público e órgãos assemelhados com as mesmas benesses e folgas remuneradas, etc. Que moral têm os legisladores e o judiciário para consertar este estado de coisas ? Nenhuma enquanto não darem exemplo cortando na própria carne. Quando o farão ? No atual momento, sem perspectivas. Vejam os orçamentos das ajudas sociais e o orçamento das mordomias. Se equivalem. Então enquanto o Brasil não acabar com ambos privilégios não sairemos do lugar. Trabalho a fazer tem e muito. Só não existe a vontade.
por uberlandiahoje | abr 15, 2025 | Ponto de Vista |
Tania Tavares – Professora – SP
As matérias das páginas B2 e B3 (14/04): “Mercado teme que o governo mire eleições e deixe ajuste fiscal de lado”, e “STF manda excluir verbas do Judiciário do limite de gastos do “arcabouço fiscal”. Ou seja nosso arcabouço fiscal é ilusão de ótica cognitiva ficcional: alucinação?
PS:A ilusão de ótica cognitiva ficcional
é uma ilusão de ótica que faz com que percebamos um objeto que não está presente na image. É como se fosse uma alucinação. (IA) …
por uberlandiahoje | abr 14, 2025 | Ponto de Vista |
Gustavo Hoffay – Agente Social
Em Uberlândia, até recentemente, tive a graça de poder dedicar-me durante pouco mais de vinte anos a uma tradicional e reconhecida entidade que cuida da reabilitação de dependentes do álcool e outras drogas e, depois, também com muito entusiasmo e nessa mesma cidade , ser aceito para fazer parte de um dileto grupo de voluntários que, a quase trinta anos, acolhe, orienta e oferece alento e informações básicas a pacientes em tratamento no Hospital do Câncer. Em ambas as instituições de saúde era muito comum eu ouvir de alguns parentes e amigos de pacientes ali em tratamento, questões relativas à justiça e à piedade divina e ao ponto de levantarem dúvidas a respeito da existência de Deus, em face de não sentirem-se convenientemente atendidos em suas preces enquanto na angustia pela qual passavam. Especificamente no Hospital do Câncer era habitual eu assistir expressões de desânimo, impotência e apavoramento, falta de fé e mesmo de uma mínima esperança de melhora do quadro de saúde de um parente ou amigo ali em tratamento, algo percebível por qualquer pessoa em semblantes que estampavam o mais completo desalento. E mesmo que todos os modernos recursos terapêuticos estivessem sendo cuidadosa e cientificamente ali aplicados por capacitados profissionais da saúde, o desconforto de uma intensa agonia era visível no rosto de jovens e adultos de ambos os sexos. Um dia, enquanto atendia e ouvia pacientes na fila de espera do setor de quimioterapia sensibilizei-me, profundamente, ao ouvir de uma jovem mãe, tendo seu filho de quatro anos de idade ao colo, a seguinte frase: -“ Moço, o meu filho está morrendo! Que Deus é esse, que permite tal sofrimento para ele e por consequência para mim e toda a nossa família? Se Deus é todo poderoso e piedoso, porque não zela por nós”? Seus olhos, banhados em lágrimas, traduziam angustia e sofrimento intenso e fez que eu parasse à sua frente e, em seguida, num átimo reflexivo dissesse-lhe: – “Sou pai e imagino entender a sua dor diante do quadro de saúde do seu filho. E digo-lhe do fundo do meu coração e com toda a sinceridade que, um dia, em razão da morte violenta de um dos meus filhos e dos meus pais, também cheguei a pensar o mesmo a respeito de Deus. Mas o tempo e também a sabedoria de Frei Antonino Puglisi, um velho e queridíssimo frade capuchinho com quem tive a graça de conviver ao longo de quinze anos, clareou-me a mente, ao ouvi-lo dizer que “é Deus quem nos dá a força, a coragem e a paciência para enfrentarmos os golpes da vida. Deus não é nosso adversário, Ele é nosso aliado! Ele é a fonte do nosso poder de suportar, da nossa capacidade de superar e nossa determinação para continuar caminhando”! E fixando o meu olhar no mais profundo dos olhos daquela mãe, arremetei emocionado: -“Sugiro que não perca nunca a sua fé! Continue orando para que Deus dê a você a força necessária para suportar com serenidade e sabedoria esse doloroso momento. Ore com fé por mais coragem e fortaleza para superar o insuportável”. Hoje, passados alguns meses desde então e também trazendo em mim cicatrizes de perdas e dores atrozes adquiridas ao longo dos meus quase setenta anos de vida, sou testemunha de que o sofrimento educa, engrandece e dignifica quem sabe recebê-lo e tratá-lo com serenidade e amor a Deus. Principalmente enquanto na honrosa porém humilde condição de integrante do grupo de voluntários do Hospital do Câncer, em Uberlândia, foi que percebi o quanto a fé cristã afirma que Deus reequilibra o avanço do mal e faz que pacientes e os seus parentes e amigos tenham a justa paga das suas virtudes. “Pedi e recebereis”; “buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á”!